Comentário geral acerca da terminologia TCS: nós temos a tendência de usar certas palavras num sentido mais gen�rico do que é convencional. Isto torna-se inevitável quando estamos a expandir e a unificar conceitos, mas muitas vezes leva a mal-entendidos. Por exemplo, quando dizemos “educação”, não queremos dizer o que a maior parte das pessoas quer, nomeadamente o processo de obrigar pessoas a memorizar alguma informação pré-determinada ou a adquirir alguma habilidade ou comportamento padrão. De acordo com essa definição, “educa-se” o papel quando se imprime a lista telefónica. Nós achamos que este não é um conceito de educação apropriado para ser aplicado a seres humanos. Os nossos conceitos humanistas de educação e aprendizagem são na verdade muito simples, contudo podem ser consideravelmente dif�ceis de englobar numa definição clara e precisa:
Educação (ou aprendizagem) � um processo pelo qual as pessoas compreendem aquilo que querem compreender, resolvem os problemas com que se deparam, crescem em direcções que lhes parecem boas, aumentam ou exercitam a sua creatividade, e de um modo geral melhoram as suas mentes (pelos seus critérios) não apenas o intelecto mas tamb�m as suas personalidades, rela��es, valores e objectivos — e assim por diante.
Um problema é algo que d� origem ao pensamento. Os seres humanos pensam quando querem ir de um estado de espírito para um estado de espírito preferível (isto �, preferível para eles próprios). Logo um problema é uma situação em que uma pessoa quer melhorar o seu estado de espírito.
Nota: Alguns problemas são desagradáveis, outros são agradáveis. Perceber a diferença (ver Coacção) é uma das chaves da filosofia TCS.
Todos os problemas nas mentes humanas são conflitos entre teorias.
Resolução de problemas: Resolvemos um problema quando somos bem sucedidos a encontrar um estado de espírito preferível.
Uma teoria é qualquer dos seguintes: aspecto da personalidade, tendência comportamental, crença, conceito, concepção, conjectura, convicção, dedução, desejo, máxima ética, expectativa, medo, gene, adivinha, hábito, esperança, hipótese, ideia, impressão, impulso, inspiração, imagem mental, meme, quadro mental, meta-teoria, noção, opinião, postulado, predisposição, premissa, presunção, característica psicológica, tendência psicológica, racioc�nio, sensação, habilidade, especulação, estado de espírito, suposição, suspei��o, suspeita, teoria, pensamento, tra�o, anseio, etc.
Teorias conscientes fazem parte da mente consciente, teorias inconscientes fazem parte da mente inconsciente.
Teorias explícitas expressam-se numa linguagem como o Português ou notação matemática; teorias inexplícitas expressam-se apenas no código interno do cérebro.
Teorias natas são herdadas no nosso ADN. (Isso não as torna imutáveis, porque as teorias do cérebro podem tomar conta das funções das teorias natas — como quando uma pessoa resolve fazer greve de fome como protesto político, ou tornar-se celibata por razões morais, e por aí a fora.)
Teorias conflituosas: Duas teorias numa mente podem entrar em conflicto lógico uma com a outra. Se a pessoa nunca nota quaisquer efeitos deste conflito, ent�o este é insignificante psicologicamente. Se a pessoa (consciente ou inconscientemente) nota os efeitos, então este constitui um problema. Se as teorias conflituosas fazem uma mente agir ou tentar agir por meios incompat�veis em simultâneo, então esta est� a ser coagida (ver abaixo).
N�o basta que uma ideia ou parte de informação seja verdadeira para a qualificar de “conhecimento”. Uma tabela de proposições verdadeiras como
238239587346 + 348439857639 = 586679444985.
A palavra “verde” tem cinco letras.
podem conter arbitrariamente uma grande quantidade de informação verdadeira, porém podem ser algo que alguém não queira ou deva saber. Não pode existir uma definição rígida para que tipo de informação constitui conhecimento.
Não devendo ser confundida com raciocínio (prova verbal ou argumento), a razão (com o adjectivo correspondente racional) é o termo geral para os processos que tendem a criar conhecimento.
Processos racionais são
A razão é para ser confrontada com outros tipos de tomada de decisão como a força, deferência para com a autoridade, superstição ou falsos raciocínios.
Quando dois ou mais agentes racionais estão a interagir, processos racionais são aqueles que procuram preferências comuns.
Creatividade é a capacidade de resolver problemas que valem a pena resolver. É a capacidade de criar conhecimento. A creatividade é específica ao assunto: é o meta-conhecimento de como resolver uma classe específica de problemas. Logo não há essa coisa de criatividade “crua”, indiferenciada.
Uma preferência comum é uma solução para um problema, ou a resolução de um desentendimento, que todas as partes preferem às suas posiçãos prima facie, como a todas as soluções candidatas que conseguiram pensar. É a solução que agrada a toda a gente que esteve envolvida no desentendimento.
Criticicar por vezes significa encontrar falhas, rebaixar, humilhar, e outras coisas negativas. Quando exaltamos as virtudes da crítica, não é esse sentido negativo da palavra que temos em mente, mas sim a crítica filosófica — argumentos que abordam uma teoria, que sugerem que a teoria é problemática.
Ideias enraízadas são ideias que uma pessoa não consegue abandonar mesmo quando não sobrevivem à crítica racional na sua mente.
Um hábito enraízado é algo que a pessoa não consegue parar de fazer mesmo que se tenha decidido conscientemente, ou que faz a pessoa sentir-se mal quando se obriga conscientemente a parar de o fazer.
A nossa definição de coacção torna precisa a ideia de se ser compelido a agir contra vontade própria:
Por “coacção” queremos dizer:
Isto leva a alguns significado secund�rios:
Tudo gira à volta da primeira definição, marcada com (1). A coacção que ocorre nesse sentido é prejudicial, seja qual for a razão. As outras ou são prejudiciais ou arriscam-se a sê-lo, dependendo se a coação no sentido (1) acontece de facto ou é apenas um risco. (O porquê de ser nociva é, outra questão. Aqui apenas quero familiarizá-los com nossa maneira de usar as palavras.)
O problema é que se alguém se comporta de forma que intencional ou provavelmente provoque (1), corre o risco de magoar a pessoa. Uma pessoa não pode saber à partida que acção em particular vai definitivamente causar coacção (1), e na verdade, a coacção pode existir sem sinais exteriores de aflição, logo não se pode saber com certeza se uma pessoa está ou não num estado de coacção (1). O que uma pessoa pode fazer, é pensar que acções são mais prováveis de provocar coacção (1). Por isso, o que fazemos em TCS é tentar apontar acções e comportamentos que parecem arriscados a este respeito.
Posto isto, comportamentos que intencional ou provavelmente fazem com que as crianças levem a cabo uma teoria enquanto outra teoria rival está presente nas suas mentes, são muitas vezes bem sucedidos. É por isso que argumentamos solidamente contra métodos usados vulgarmente pelos pais convencionais.
Em qualquer caso particular, a criança pode ter a criatividade de não entrar no estado psicológico de levar a cabo uma teoria enquanto outra teoria rival ainda está activa na sua mente, desde logo evitando mal, mas a questão é, se tomamos parte da coacção (3) a criança pode não ser capaz de evitar coacção (1) logo compete-nos evitar comportarmo-nos de maneira a poder causar coacção (1).
Por consentimento queremos dizer acordo pleno, livre, genuíno, ou consentimento unânime. Uma solução para um problema que seja baseada no consentimento é uma que todas as partes involvidas preferem, não uma com que concordam reluctantes. Isto pode ser contrastado com o compromisso.
Consentimento Unânime é o critério de fazer decisões em relações TCS. Sempre que há um desacordo, as partes criam uma preferência comum em conjunto.
Auto-sacrifício é coercivo. É obviamente uma forma de auto-coacção, porque quando uma pessoa se auto-sacrifica, está por definição a agir contra a sua própria vontade. Mas há mais. Auto-sacrifício tamb�m coaje a criança. Quando os pais se auto-sacrificam, a não ser no caso de uma situação invulgar e os pais se sintam bem (digamos que heróicos) por agir assim, eles irão sentir muito provavelmente algum nível de dor psicológica e assim algum nível de resentimento para com a criança. Isto vai transmitir à criança o facto que os pais estão a auto-sacrificar-se e como a criança se preocupa com eles e quer que eles sejam felizes, isto vai causar na criança um conflito intrat�vel (coercivo).
Memes são ideias que são replicadores. Por outras palavras, uma ideia (ou teoria, ou atitude, ou habilidade, etc.) que é passada de uma pessoa para outra através do comportamento (i.e. não pelos genes) é um meme. Pense nisto como análogo psicológico do gene.
Que also seja um meme ou não depende de como é transmitido, não propriamente do seu conteúdo. Por exemplo, timidez ou receio de fazer figuras tristes não são, em geral, memes porque sugerem irracionalidade induzida por coacção ao invés de ideias que possam ser replicadores. Porém as ideias coercivas dos pais que levam à timidez ou ao receio de fazer figuras tristes já podem muito bem ser replicadores. E se esse receio cumpre o papel de provocar que os pais se agarrem a essas ideiais e coajam os seus filhos de uma forma que os faz adquirir o mesmo receio, ent�o o receio em si faz parte do meme.
Sempre que os pais se comportam de uma maneira que faz com que os seus filhos cresçam e se comportem de maneira que faz com que os seus filhos cresçam para provocar o mesmo comportamento nos seus filhos... um meme está em acção.
Para uma ideia melhor do “meme” significa, leia-se The Extended Phenotype ou O Gene Egoísta por Richard Dawkins, que inventou o termo.
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